Debate Aberto - Origem Geográfica do Mexilhão Perna perna

Caros colegas e amigos participantes do Fórum

Bom dia !! ... No recente "XVIII Encontro Brasileiro de Malacologia - XVIII EBRAM", celebrado como todos sabem na cidade do Rio de Janeiro - RJ no passado mês de Julho, foi lançada/exposta a interessante mais altamente controversa   conforme especialistas do setor que trabalham a vários anos com a espécie ) hipótese acadêmica de que o popular molusco bivalve de cultivo, Mexilhão ou Marisco, Perna perna, na real não é uma espécie nativa dos costões Americanos e sem "exótica no Brasil" ( Souza 2003 ), chegada da África entre os séculos XVI a XIX, provavelmente incrustada nos cascos das embarcações que mantinham um intenso comércio e trafico negreiro.

Citando textualmente a fonte ( Souza 2003 ) :

"... Perna perna é uma espécie nativa da África e hoje tem uma ampla distribuição no mundo. No Brasil, encontra-se do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. E provável que esta espécie tenha sido introduzida no Brasil, , nos séculos XVI a XIX, durante o tráfico negreiro, quando muitas embarcações mantinham um intenso comercio com a África e traziam em seus cascos os mexilhões incrustados(*). A melhor evidencia de sua introdução foi obtida com o estudo das espécies presentes nos sambaquis. Na maioria dos vestígios arqueológicos - datados de 8.000 a 2.000 anos A. P. - deixados pelos pescadores, caçadores e coletores de moluscos que viviam no litoral do Estado do Rio de Janeiro não foram encontradas conchas de P. perna. Naqueles em que a espécie é citada, o registro é dúbio(**). Deste modo, a existência de casos recentes do comportamento invasor da espécie, sua distribuição disjunta nas Américas, além da fragilidade de dados que atestam a sua presença na pré-história brasileira, reforçam a hipótese de que o mexilhão P. perna seja uma espécie exótica no Brasil.".

(*)Conforme especialistas na espécie, a mesma não apresenta hábitos xilófilos ( viver sobre madeira ), fato que parece encontrar reforço em estudos malacológicos acadêmicos conduzidos ao respeito ( Baptista 1994 ). Ainda, a espécie é popularmente conhecida, entre outros, como "Marisco-da-pedra" ( Arana 1999, p. 215 ).

(**)No denominado "Sitio Arqueológico Rio do Meio II", localizado em Canasvieiras, setor costeiro Norte da Ilha de Santa Catarina, cuja população pré-colonial foi caracterizada como pertencente a Grupos Ceramistas da Tradição Arqueológica Itararé", que teriam se instalado na ilha a partir do século IX de nossa era ( Coutinho 1999, p. 11 ), ficou devidamente registrada/documentada, entre outros, a presença do Mexilhão Perna perna   Coutinho 1999, pp. 55-56, 80 ). Outro tanto aconteceu previamente no denominado "Sitio Arqueológico Enseada I" ( também denominado "SC LN 71" ), localizado na Ilha de São Francisco do Sul, no setor Norte do Estado de Santa Catarina ( Bandeira 1992, pp. 30-32, 91 ).

Referências :

Arana, Luis Vinatea. 1999. Aqüicultura e desenvolvimento sustentável. Florianópolis, SC : Editora da UFSC, 310 p.

Bandeira, Dione da Rocha. 1992. Mudança na Estratégia de Subsistência  : O Sitio Arqueológico Enseada I - Um Estudo de Caso - . Florianópolis, SC : UFSC, Monografia Mestre Antropologia, Novembro de 1992, 127 p.

Baptista, Ivana Eunice. 1994. Moluscos xilófilos : Comunidades em Troncos. Florianópolis, SC : UFSC, Trabalho Grau Bacharel Ciências Biológicas, Dezembro de 1994, 39 p.

Coutinho, Iracema de Siqueira. 1999. Identificação e biometria dos restos conchíferos presentes no Sitio Arqueológico do Rio do Meio - Ilha de Santa Catarina / SC. Florianópolis : UFSC, Monografia Grau Bacharel Ciências Biológicas, 83 p.

Souza, Rosa Cristina Corrêa Luz de. 2003. Bivalves marinhos introduzidos no Brasil. Rio de Janeiro, RJ : Resumos XVIII EBRAM, 21 a 25 de Julho de 2003, p. 20 ( Mesa Redonda - Moluscos Invasores no Brasil ).

Com a apresentação dos anteriores comentários e arrazoados queremos incentivar o inicio, no marco deste Fórum, de construtivo DEBATE em torno da apaixonante questão da procedência geográfica do Mexilhão Perna perna   iniciado no seio do passado XVIII EBRAM ), esperando poder contar, em breve, com a importante e valiosa participação de todas as partes interessadas no tema.

O PDPM Editor.

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